quarta-feira, 18 de setembro de 2013


     Manuel Bandeira




     Não podemos falar sobre Manuel Bandeira sem antes recordarmos o que foi o Modernismo Brasileiro. Este período literário eclodiu com a Revolução Industrial (século XX), pois a mesma foi fruto de uma grande revolução: a Revolução de 30, onde Getúlio Vargas sobe ao poder e a burguesia industrial define um novo rumo para a economia do país, que foi a industrialização.         
     Com isso, a arte e a cultura também sofreram influências, fazendo com que seus seguidores abrissem caminhos para novas transformações sociais e lutassem por uma literatura genuinamente nacional, baseada na absoluta liberdade de criação.
Os autores que fizeram parte da era modernista tinham como objetivo resgatar as origens culturais, até então alicerçadas nos moldes importados.
Foi então que, em 1922, aconteceu a Semana de Arte Moderna, na qual vários artistas, como escritores, pintores, artistas plásticos, entre outros, expuseram suas criações, todas reunidas em torno de um só objetivo: o rompimento com os modelos conservadores antes difundido.

     Apesar de Manuel Bandeira não ter participado deste evento, contribuiu para a Revista Klaxon, uma das revistas baseadas em ideias revolucionárias perante a situação política que dominava o país naquela época, como também propagadora dos ideais modernistas em voga.
Podemos perceber uma crítica acentuada no que se refere ao lirismo exagerado, tanto pregado pelos autores do Romantismo, pois os mesmos abusavam deste instinto melancólico como forma de fugir da realidade.

Critica também os parnasianos, que tanto se prenderam ao vernaculismo e às formas fixas de expressão, como os sonetos. Já o Modernismo valorizava a liberdade de expressão e o uso dos versos livres, inclusive no próprio poema há o predomínio dos mesmos.
E, por último, notamos uma aproximação entre a língua falada e escrita, exprimindo certo coloquialismo, que também era uma característica da estética em estudo.

 Bibliografia

       
          Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (Recife, 19 de abril de 1886 - Rio de janeiro 13 de outubro de 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro.
    Considera-se que Bandeira faça parte da geração de 22 da literatura moderna brasileira,  sendo seu               poema Os Sapos o abre-alas da Semana da arte moderna em 1922.  Juntamente com escritores como           João     Cabral de Melo Neto, Paulo Freire, Gilberto   Freyre, Nélson Rodrigues, Carlos Pena Filho e           Osman Lins, entre outros, representa a produção literária do estado de Pernambuco.


·                       Nascimento:19  de abril de 1886-Recife
·                       Morte:13 de outro de 1968 (82 anos) -Rio de Janeiro
·                       Nacionalidade: Brasileiro
·                       Ocupação: Poeta,crítico literário e de arte ,professor  de literatura e tradutor .
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  Conhecimento aprofundado:


Filho do engenheiro Manuel Carneiro de Sousa Bandeira e de sua esposa Francelina Ribeiro, era neto paterno de Antônio Herculano de Sousa Bandeira, advogado, professor da Faculdade de Direito em Recife e deputado geral na 12ª legislatura. Tendo dois tios reconhecidamente importantes, sendo um, João Carneiro de Sousa Bandeira, que foi advogado, professor de Direito e membro da" Academia brasileira de letras" e o outro, Antônio Herculano de Sousa Bandeira Filho, que era o irmão mais velho de seu pai e foi advogado, procurador da coroa, autor de expressiva obra jurídica e foi também Presidente das Províncias da Paraíba e de mato Grosso. Seu avô materno era Antônio José da Costa Ribeiro, advogado e político, deputado geral na 17ª legislatura. Costa Ribeiro era o avô citado em Evocação do Recife. Sua casa na rua da União é referida no poema como "a casa de meu avô".
No Rio de Janeiro, para onde viajou com a família, em função da profissão do pai, engenheiro civil do Ministério da Viação, estudou no colégio Pedro II (Ginásio Nacional, como o chamaram os primeiros republicanos) foi aluno de Silva Ramos, de José Veríssimo e de João Ribeiro, e teve como condiscípulos Álvaro Ferdinando Sousa da SilveiraAntenor Nascentes, Castro Menezes, Lopes da Costa, Artur Moses.

Em 1904 terminou o curso de Humanidades e foi para São Paulo, onde iniciou o curso de arquitetura na Escola Politécnica de São Paulo, que interrompeu por causa da tuberculose. Para se tratar buscou repouso em campanhaTeresopólis e Petropólis. Com a ajuda do pai que reuniu todas as economias da família foi para a Suíça, onde esteve no Sanatório de Clavadel, onde permaneceu de junho de 1913 a outubro de 1914, onde teve como colega de sanatório o poeta Paul Eluard. Em virtude do início da  Primeira Guerra Mundial, volta ao Brasil. Ao regressar, iniciou na literatura, publicando o livro "A Cinza das Horas", em 1917, numa edição de 200 exemplares, custeada por ele mesmo. Dois anos depois, publica seu segundo livro, "Carnaval".


Em 1935, foi nomeado inspetor federal do ensino e em 1936, foi publicada a “Homenagem a Manuel Bandeira”, coletânea de estudos sobre sua obra, assinada por alguns dos maiores críticos da época, alcançando assim a consagração pública. De 1938 a 1943, foi professor de literatura no Colégio D. Pedro II, e em 1940, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Posteriormente, nomeado professor de Literaturas Hispano-Americanas na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, cargo do qual se aposentou, em 1956.



Manuel Bandeira faleceu no dia 13 de outubro de 1968, com hemorragia gástrica, aos 82 anos de idade, no Rio de Janeiro, e foi sepultado no túmulo 15 do mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.







Livro: Libertinagem & Estrela da Manhã-Rio de Janeiro-1930:




     Libertinagem-Rio de Janeiro 1930 :È o quarto livro de poemas de Manuel Bandeira, mas é o seu primeiro livro verdadeiramente moderno e importante.É uma  sucessão se poemas espantosos , cheios de novidade ,humor ,erotismo, refinamento musical, força de imagens- tudo isso produzindo uma intensidade emocional que , ás vezes , aproxima-se do piegas ,mas nunca cai nele.
  Alguns dos poemas mais famosos de Bandeira fazem parte deste livro: “Pneumotórax”, cena de humor negro envolvendo um tuberculoso e um médico infame; “Pensão familiar”, cena do cotidiano de uma “pensãozinha burguesa”, com o inesquecível gatinho que “faz pipi” e “encobre cuidadosamente a mijadinha”
 “a única criatura fina da pensãozinha burguesa”; “Profundamente”, um dos grandes poemas da morte deste grande poeta da morte, e, talvez o mais célebre de seus poemas, “Vou-me embora pra Pasárgada”, deliciosa utopia que apresenta a fantasia de um país em que todos os desejos se satisfazem, especialmente os desejos sexuais:

  
                                                                         “ Vou-me embora prá Pasárgada
                                                                                Lá sou amigo do rei
                                                                     Lá tenho a mulher que eu quero
                                                                               Na cama que escolherei
                                                                      Vou-me embora prá Pasárgada” (...)


   A cinza das horas-1917


 Primeiro livro de Manuel Bandeira, A Cinza das Horas, é marcado pelo tom fúnebre, e traz poemas parnasiano-simbolistas. São poesias compostas durante o período de sua doença. Do ano em que o poeta adoece até 1917, quando publica A Cinza das Horas, é que se daria a etapa decisiva e a inusitada gestação de um dos maiores escritores da língua portuguesa.


Segundo ele próprio, Manuel Bandeira, quando publica esse livro não tinha a intenção de começar carreira literária: "desejava apenas dar-me a ilusão de não viver inteiramente ocioso". O eu-lírico vivencia o ato de morrer à medida que descreve sua agonia em seus 
versos que são seu sangue.

Estrela da vida inteira
                                                       

 O livro Estrela da Vida Inteira é, sobretudo, uma reunião, um conjunto de livros de Bandeira. Portanto, ao entrar em contato com essa obra o leitor estará diante de um panorama geral da lírica de um dos maiores poetas que nosso país produziu. Vejamos, então, a seqüência das obras de Bandeira, e a análise de alguns dos seus mais expressivos poemas.




Carnaval

Em Carnaval ainda encontramos poemas que seriam definidos pelo próprio Bandeira como “pastiches parnasianos”, “uns fundo de gaveta”, poesia deslocada em sua obra que nada acrescenta ao livro. Todavia, em alguns desses casos, visualizamos certas tendências que se acentuariam mais tarde no Modernismo de 22, como em Verdes Mares, poema no qual verificamos o uso da piada em poesia:

Clama uma voz amiga: - Aí tem o Ceara.
E eu, que nas ondas punha a vista deslumbrada,
Olho a cidade. ao sol chispa a areia dourada.
A bordo a faina avulta e toda a gente já.

poesias de manuel bandeira

Poesia de Manuel Bandeira     



  
    Manuel Bandeira possui um estilo simples e direto, embora não compartilhe da dureza de poetas como João Cabral de Melo Neto, também pernambucano. Aliás, numa análise entre as obras de Bandeira e João Cabral, vê-se que este, ao contrário daquele, visa a purgar de sua obra o lirismo. Bandeira foi o mais lírico dos poetas. Aborda temáticas cotidianas e universais, às vezes com uma abordagem de "poema-piada", lidando com formas e inspiração que a tradição acadêmica considera vulgares. Mesmo assim, conhecedor da Literatura, utilizou-se, em temas cotidianos, de formas colhidas nas tradições clássicas e medievais. Em sua obra de estreia (e de curtíssima tiragem) estão composições poéticas rígidas, sonetos em rimas ricas e métrica perfeita, na mesma linha onde, em seus textos posteriores, encontramos composições como o rondó e trovas.
É comum encontrar poemas (como o Poética, do livro Libertinagem) que se transformaram em um manifesto da poesia moderna. No entanto, suas origens estão na poesia parnasiana.Foi convidado a participar da Semana de arte moderna de 1922embora não tenha comparecido, deixou um poema seu (Os Sapos) para ser lido no evento.
Uma certa melancolia, associada a um sentimento de angústia, permeia sua obra, em que procura uma forma de sentir a alegria de viver. Doente dos pulmões, Bandeira sofria de tuberculose e sabia dos riscos que corria diariamente, e a perspectiva de deixar de existir a qualquer momento é uma constante na sua obra.
A imagem de bom homem, terno e em parte amistoso que Bandeira aceitou adotar no final de sua vida tende a produzir enganos: sua poesia, longe de ser uma pequena canção terna de melancolia, está inscrita em um drama que conjuga sua história pessoal e o conflito estilístico vivido pelos poetas de sua época. Cinza das Horas apresenta a grande tese: a mágoa, a melancolia, o ressentimento enquadrados pelo estilo mórbido do simbolismo tardio. Carnaval, que virá logo após, abre com o imprevisível: a evocação báquica e, em alguns momentos, satânica do carnaval, mas termina em plena melancolia. Essa hesitação entre o júbilo e a dor articular-se-á nas mais diversas dimensões figurativas. Se em Libertinagem, seu quarto livro, a felicidade aparece em poemas como "Vou-me embora pra Pasárgada", onde é questão a evocação sonhadora de um país imaginário, o pays de cocagne, onde todo desejo, principalmente erótico, é satisfeito, não se trata senão de um alhures intangível, de um locus amenus espiritual.

Em Bandeira, o objeto de anseio restará envolto em névoas e fora do alcance. Lançando mão do tropo português da “saudade”, poemas como Pasárgada e tantos outros encontram um símile na nostálgica rememoração bandeiriana da infância, da vida de rua, do mundo cotidiano das provincianas cidades brasileiras do início do século. O inapreensível é também o feminino e o erótico. Dividido entre uma idealidade simpática às uniões diáfanas e platônicas e uma carnalidade voluptuosa, Manuel Bandeira é, em muitos de seus poemas, um poeta da culpa. O prazer não se encontra ali na satisfação do desejo, mas na excitação da algolagnia do abandono e da perda. Em Ritmo Dissoluto, seu terceiro livro, o erotismo, tão mórbido nos dois primeiros livros, torna-se anseio maravilhado de dissolução no elemento líquido marítimo, como é o caso de Na Solidão das Noites Úmidas. Esse drama silencioso surpreende mesmo em poemas “ternos”, quando   inesperadamente encontram-se, como é o caso dos poemas jornalísticos de Libertinagem, comentários mordazes e e sorrateiros interrompendo a fluência ingênua de relatos líricos, fazendo revelar todo um universo de sentimentos contraditórios. 

Obras:
    
        Poesia 
  •  A cinza das horas, 1917
  • Carnaval, 1919
  • O ritmo dissoluto, 1924
  • Libertinagem, 1930
  • Estrela da manhã, 1936
  • Lira dos cinquent’anos, 1940
  • Belo, belo, 1948
  • Mafuá do malungo, 1948
  • Opus 10, 1952
  • Estrela da tarde, 1960
  • Estrela da vida inteira, 1966

    Prosa :
  • Crônicas da Província do Brasil – Rio de Janeiro, 1936
  • Guia de Ouro Preto, Rio de Janeiro, 1938
  • Noções de História das Literaturas – Rio de Janeiro, 1940
  • Autoria das Cartas Chilenas – Rio de Janeiro, 1940
  • Apresentação da Poesia Brasileira – Rio de Janeiro, 1946
  • Literatura Hispano-Americana – Rio de Janeiro, 1949
  • Gonçalves Dias, Biografia – Rio de Janeiro, 1952
  • Itinerário de Pasárgada – Jornal de Letras, Rio de Janeiro, 1954
  • De Poetas e de Poesia – Rio de Janeiro, 1954
  • A Flauta de Papel – Rio de Janeiro, 1957
  • Itinerário de Pasárgada – Livraria São José – Rio de Janeiro, 1957
  • Andorinha, Andorinha – José Olympio – Rio de Janeiro, 1966
  • Itinerário de Pasárgada – Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1966
  • Colóquio Unilateralmente Sentimental – Editora Record – RJ, 1968
  • Seleta de Prosa – Nova Fronteira – RJBerimbau e Outros Poemas – Nova Fronteira – RJ 
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        Os sapos, poema de Manuel Bandeira



                                                            Enfunando os papos,                        
                                                           Saem da penumbra,
                                                           Aos pulos, os sapos.
                                                              A luz os delumbra.                          
                                                                                                                  

                                                             Em ronco que a terra,
                                                                 Berra o sapo-boi:
                                                          – “Meu pai foi à guerra!”
                                                      – “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”
                                                              O sapo-tanoeiro
                                                            Parnasiano aguado,
                                                           Diz: — ” Meu cancioneiro
                                                               É bem martelado.
                                                              Vede como primo
                                                           Em comer os hiatos!
                                                          Que arte!  E nunca rimo
                                                           Os termos cognatos.



                                                            O meu verso é bom
                                                               Frumento sem joio.
                                                                Faço rimas com
                                                              Consoantes de apoio.
                                                        Vai por cinquenta anos
                                                        Que lhes dei a norma:
                                                          Reduzi sem danos
                                                         A formas a forma.
                                                          Clame a saparia
                                                        Em críticas céticas:
                                                        Não há mais poesia,
                                                       Mas há artes poéticas…”
                                                            Urra o sapo-boi:
                                                        – “Meu pai foi rei” — “Foi!”
                                                                                                                                              – “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”
                                                         Brada em um assomo
                                                          O sapo-tanoeiro:
                                                     – “A grande arte é como
                                                           Lavor de joalheiro.
                                                         Ou bem de estatutário.
                                                           Tudo quanto é belo,
                                                          Tudo quanto é vário,
                                                            Canta no martelo.”
                                                            Outros, sapos-pipas
                                                            (Um mal em si cabe),
                                                              Falam pelas tripas:
                                                     –”Sei!” — “Não sabe!” — “Sabe!”
                                                             Longe dessa grita,
                                                           Lá onde mais densa
                                                               A noite infinita
                                                       Verte a sombra imensa;
                                                          Lá, fugido ao mundo,
                                                          Sem glória, sem fé,
                                                             No perau profundo
                                                                E solitário, é
                                                               Que soluças tu,
                                                             Transido de frio,
                                                                Sapo-cururu
                                                                Da beira do rio…



–                                                      Poemas e  poesias
                        

—-                                                O último poema

                                 Assim eu quereria o meu último poema.
                 Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
                                Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
                         Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
                 A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
                        A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

                                                    (Manuel Bandeira)